Editorial
Num texto de 1967, Roland Barthes mostra que o discurso da história, como todo discurso com pretensões realistas, parece fundamentar-se num esquema semântico de dois termos, o referente e o significante. O significado seria portanto confundido com o referente, o qual entraria em relação direta com o significante. Assim sendo, encarregado simplesmente de exprimir o real, o discurso ficaria sem o termo fundamental das estruturas imaginárias, que é o significado. Nietzsche, entretanto, dizia que "não há fatos em si. É sempre preciso começar por introduzir um sentido para que possa existir um fato", levando a concluir que um fato não tem senão existência linguística. Neste caso, enquanto linguagem (sistema simbólico de significação) ou discurso (enunciado visto a partir das condições de produção — linguísticas e sociais — que o geraram), irmanam-se literatura e história.
Por outro lado, a língua é regida por um código que obriga a dizer conforme certo repertório e certas regras; e se ela impede de dizer de outras formas, configura-se como discurso autoritário da verdade ou discurso alienante do estereótipo — daí seu caráter fascista, como reconheceu Barthes em aula inaugural da cadeira de semiologia literária do College de France.
Há, entretanto, uma possibilidade de discurso fora do poder e da coerção da linguagem: a literatura, capaz de revolução permanente, de anarquia, isto é, de infração à autoridade. Trata-se de uma escritura enviesada que, pretextando falar do mundo, remete para si mesma como referente e como forma peculiar de refratar o real. Questionando o mundo mas sem oferecer respostas, liberando a significação mas sem fixar sentidos, a linguagem poética se define como o lugar, ambíguo do interdito e do prazer, da pluralidade e da significância, o espaço social onde se desfaz o sujeito — entendido como juiz, mestre, decifrador — e por onde penetram o ideológico e o imaginário. Por tudo isso a literatura é essa trama (tecido, texto, textura) que se oferece, erótica e fértil, às mais variadas pesquisas estéticas, históricas, filosóficas, psicanalíticas.
Zília Mara Pastorello Scarpari
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