v. 21 n. 38 (2002)

Editorial

De acordo com dados recentes do INEP, na rede pública, 47% dos alunos do Ensino Fundamental estudam em escolas sem biblioteca; cerca de 1 milhão de estudantes abandonam o Ensino Médio, número que chega a 2,9 milhões nas séries iniciais e, se na rede privada os dados são menos alarmantes, igualmente apontam para sérios problemas. As universidades também enfrentam carências estruturais e deparam-se com muitos desafios para uma efetiva democratização do saber. Trata-se, portanto, de uma realidade que, para ser transformada, exige decisões governamentais firmes, mas que não será superada sem o envolvimento de toda sociedade brasileira, isto é, cada um de nós, enquanto cidadãos conscientes de nossas escolhas políticas e possibilidades efetivas de intervenção a partir de nossos diferentes campos de atuação, precisa assumir responsabilidades na construção efetiva dessa mudança.

Para os professores e professoras, de todos os níveis de ensino, tal intervenção define se como fundamento mesmo de seu trabalho docente e, para isso, não se deve perder de vista que educação, seguindo-se as colocações de Marilena Chauí, "significa  um movimento de transformação interna daquele que passa de um suposto saber (ou da ignorância) ao saber propriamente dito (ou à compreensão de si, dos outros, da realidade, da cultura acumulada e da cultura no presente ou se fazendo)". Desse modo, a educação é inseparável da formação de todo indivíduo e, por isso, é sempre um processo permanente.

No atual mundo globalizado, essa noção de educação permanente, tendo em vista as exigências do mercado capitalista, muitas vezes se traduz, equivocadamente, como a capacidade de estarmos sempre sintonizados com as novidades que se apresentam em cada campo do saber, com as mais recentes descobertas tecnológicas e cientificas, a partir de informações que nos chegam por diferentes e cada vez mais sofisticados e velozes meios de comunicação. No entanto, o conhecimento é obtido por um percurso fundamentalmente reflexivo e a reflexão é um processo crítico e criativo que nos permite avançar para o novo a partir de nosso diálogo com o passado e com o presente.

Os artigos aqui reunidos representam a preocupação de educadores em apontar novas perspectivas sobre o processo educacional, cientes de que pensar certo, como disse Paulo Freire, "é não estarmos demasiadamente certos de nossas certezas", o que implica a clareza de que toda prática docente é um incessante questionamento, busca e pesquisa de caráter dialógico e histórico.

Inara de Oliveira Rodrigues

Editora

Publicado: 2015-05-28