JUÍZO, CONCEITO E OBJETO NA DEDUÇÃO METAFÍSICA: ALGUNS APONTAMENTOS
Resumen
Na Seção Do fio condutor para a descoberta de todos os conceitos puros do entendimento, Kant afirma que essa descoberta é possível dada sua correspondência a uma tábua dos juízos, a qual é fundada no uso lógico do entendimento. Na sequência desse texto, Kant apresenta duas concepções distintas do que ele entende por julgar: i) “a ação de unificar representações”; ii) “o conhecimento mediato de um objeto”. Isso posto, o objetivo de nosso texto é investigar a abrangência e a limitação dessas duas concepções do ato de julgar, dando atenção especial para a explicação da relação do juízo com os objetos de conhecimento. Como veremos, uma vez que a primeira compreensão de juízo apresentada na Seção Do fio condutor... não explica a relação do conhecimento com o objeto de conhecimento, atentaremos para a segunda dessas explicações: se o juízo é o conhecimento mediato de um objeto, é na atividade própria ao julgar que nosso pensamento pode fazer referência ao objeto de conhecimento. Contudo, ao final de nosso texto, veremos alguns problemas dessa última caracterização do juízo, chegando ao resultado “negativo” de sua insuficiência para explicar a relação do conceito com o objeto de conhecimento no interior do juízo. Como último movimento, sugeriremos um encaminhamento para um resultado “positivo” de nossa análise, a saber, talvez apenas um olhar para a função reflexionante do juízo possa esclarecer o fundamento para a relação conhecimento/objeto de conhecimento. A parte final de nosso texto consistirá em sugerir um ponto de partida para enfrentar a questão da formação - quanto ao conteúdo - dos conceitos empíricos em Kant.
Citas
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