SOBRE OS LUGARES DA FILOSOFIA
DOI:
https://doi.org/10.37782/thaumazein.v13i25.3572Resumo
Introdução
Nos dias 4 e 5 de novembro de 2019 realizou-se, na Universidade Federal de Santa Maria, um “Encontro Regional da Residência Pedagógica em Filosofia”, sobre o tema dos “lugares da Filosofia”. A primeira parte da minha fala no evento foi dedicada à discussão de aspectos particulares do currículo local, em especial a questão dos critérios de decisão que levamos em conta nas reformas curriculares. Fiz uma breve revisão da história do Curso de Licenciatura em Filosofia da UFSM, que tem mais de cinquenta anos de funcionamento. Fiz também uma avaliação da conjuntura que vivemos no ensino de filosofia. Retomei o tema das dificuldades de caracterização da filosofia para sua apresentação didática e pedagógica. Na medida em que as decisões sobre o desenho curricular em nossa área são bastante amparadas nas intuições e preferências docentes, amplia-se a possibilidade de que elas sejam vistas como de ordem subjetiva. Eu tenho procurado identificar algumas dificuldades do que chamo de “decisionismo curricular”, mas também tenho feito sugestões no sentido de que a exploração conceitual das diferenças entre três eixos no ensino da filosofia, como produto, como problema e como processo, pode ser o ponto de partida para novos esforços de caracterização da disciplina, a partir de seu eixo de procedimentos. O problema torna-se ainda mais premente no quadro político e social que estamos vivendo. Somam-se às dificuldades institucionais a necessidade de darmos conta de uma caracterização da filosofia que faça justiça não apenas a temas emergentes, mas ao processo de redesenho de suas próprias fronteiras. Nesta versão eu suprimi a abordagem da situação curricular da UFSM em benefício de uma expansão da segunda parte. Incluí algumas discussões que não apresentei naquele dia, em especial uma apresentação sobre A paixão segundo G. H., de Clarice Lispector, que me serviu, no presente texto, para fazer uma ponte entre certos temas. Incluí também uma abordagem de A Vida do Espírito, de Hannah Arendt, que me pareceu essencial para o mosaico que tento desenhar, faz anos. O resultado está longe de ser satisfatório. O fracasso, como diz Clarice, dá muito trabalho, pois para cair é preciso subir um pouco e “é inútil procurar encurtar caminho, a trajetória não é apenas um modo de ir, a trajetória somos nós mesmos”.