O ESPECTRO DE ABEL / O CÍRCULO INFERNAL DA NECROPOLÍTICA
DOI:
https://doi.org/10.37782/thaumazein.v14i27.4070Resumo
O presente texto é um esforço de reunir, em torno do conceito de necropolítica, questões que atravessam a obra de Achille Mbembe e estão ausentes ou são pouco trabalhadas no texto “Necropolítica”. O foco será especialmente em distinguir o poder de matar do necropoder, mostrando como este produz uma espacialidade e um espaço onde ele pode circular livremente, destruindo e constituindo realidades e mundos de morte, articulando os elementos que compõem a necropolítica como formação de terror inaugurada na guerra colonial: i) o exercício do poder soberano como poder de matar e transgredir qualquer normatividade para além de si; ii) a normalização do estado de exceção pelo enquadramento de partes do corpo social como inimigas para além das fronteiras da civilização; iii) a militarização do cotidiano e submissão de zonas sitiadas a uma lógica de guerra sem lei. Essa articulação será analisada em termos de sua instrumentalidade e de seu poder de reencenação infinita em variados contextos após o fim da colônia, levando em consideração o papel fundamental da raça na mobilização desses recursos de guerra e morte. Por fim, a ideia é trazer a necropolítica para o centro do dilema ético maior da obra de Mbembe: a demanda pela derrubada violenta da realidade pós-colonial e o risco da circulação infinita da morte na forma do fratricídio.